2.11.09

Mr.Dheo

» ENTREVISTA



1 - Porque é que o teu tag é Dheo?

Não há uma grande história, basicamente pensei em letras que gostava e na melhor forma de as unir. Depois, e dentro dos possíveis, que fosse um tag difícil de ver repetido em qualquer lado.

2- De onde veio o Mr?

O Mr. foi uma brincadeira de amigos que acabou por ficar agregado ao Dheo, por volta de 2003.



3 - O que é que tentas mostrar ao mundo com as tuas peças?

Eu pinto para mim e por isso a minha maior preocupação não é mostrar ao mundo o que quer que seja. Agora, se escolho a rua como suporte é natural que também queira que a minha arte seja vista e interpretada caso contrário pintava jarros de flores em telas e mantinha-as em casa. Cada peça que faço tem um conceito bastante forte por trás, quase sempre social, e faz sentido escolher a rua porque é uma forma de chegar a qualquer extrato social, qualquer idade ou raça.

3 - Porque é que começaste a pintar?

Eu desenho desde muito novo mas nunca estudei Artes, acho que nunca pensei fazer desse "hobbie" vida porque sempre vi a pintura como óleo ou acrílico e isso nunca me puxou. Quando descobri o graffiti senti uma identificação total e pela primeira vez tive necessidade de explorar esse gosto que tinha de uma forma mais séria. Começei sozinho, com 15 anos, e nunca mais parei.



4 - Qual é o estilo em que mais te encaixas?

É difícil responder a essa pergunta. Quem não conhece a fundo o meu trabalho possivelmente diz que faço um trabalho realista. E faço-o de facto, é algo que pela complexidade e dificuldade me atrai, para mim é um grande desafio. Mas o meu principal objectivo é ser o mais completo possível, continuo a fazer lettering em todas as frentes e outro tipo de abordagens que não se encaixam no realismo, por isso tenho alguma dificuldade em me incluir num determinado estilo. Acho que acabo por ter o meu próprio por muito que não tenha criado rigorosamente nada. E quem o diz mente, tudo o que vês em Portugal que quem não estuda durante anos graffiti apelida de "inovador" já foi feito e explorado.
O que se pode fazer é dar um cunho pessoal, trabalhar esses estilos de uma forma diferente e é isso que eu procuro.

5 - No inicio, quais eram os teus "ídolos"?


Felizmente durante estes 9 anos já conheci e pintei com todos os writers que admirava quando comecei. Nesse sentido sinto-me um priviligiado. É normal que alguns te desiludam, outros te surpreendam, mas cada um é como é e de toda a gente que conheces consegues sempre tirar algo de positivo. Posso falar-te de dois nomes, o Caos que hoje é um grande amigo e com quem partilhei das maiores experiências de graffiti até hoje, e o Exas que para mim sempre foi um génio e que reforçou ainda mais essa minha visão quando o conheci e pintei com ele.



6 - Se te dessem à escolha as seguintes opções qual escolherias e porquê: Fazeres um trabalho e seres recompensado monetariamente ou pagares o material do teu próprio bolso e fazeres algo a teu gosto?

Essa é aquela pergunta em que os writers portugueses não são sinceros porque se forem não estão a ser os "verdadeiros". E depois enterram-se nas entrevistas a responder na primeira pergunta "faço ilegal porque graff é isso, é pintar na street contra o sistema" e na quinta "no futuro gostava de viver do graff".
Ninguém rejeita pintar por dinheiro, desde que veja o seu trabalho valorizado e respeitado, e quem diz que não o faz é grande tanga. Conheço writers que mudam de tag quando fazem trabalhos para não assumirem esse lado. Para quê? Ninguém deixa de ser "verdadeiro" por fazer trabalhos e ganhar dinheiro com isso, desde que se mantenham na rua activos e a fazer o que gostam. Se são convidados para fazer trabalhos é porque evoluíram na rua durante muitos anos, porque gastaram muito dinheiro do próprio bolso para pintar na rua, porque foram "verdadeiros" o suficiente.

Agora é preciso é esperar que os trabalhos cheguem e não ir à procura deles, porque não é com 10 peças na rua que se dignifica o graffiti a um nível profissional,e é por isso que me faz confusão ver miúdos a fazer trabalhos e exposições e dar entrevistas completamente verdes e a dar uma imagem negativa do graffiti. É preciso pintar muito na rua, durante os anos quefor necessário, trabalhar e evoluir e depois sim, aceitar quando vos convidam para um trabalho. Ninguém quer trabalhar no Pingo Doce e fazer graff ao fim-de-semana só para se manter "verdadeiro" quando pode pintar todos os dias e ganhar dinheiro com isso.

7 - Achas que já chegaste ao "ponto alto" do graffiti ou achas que ainda tens muito para dar ao meio?

Acho que nunca vou chegar ao "ponto alto", se algum dia pensar que cheguei posso arrumar as latas e ficar em casa, porque com essa mentalidade não serei ninguém. Tenho muito para dar, muito para aprender,muito para evoluir, muito para pintar. Não tenho dúvidas nenhumas sobre isso e acho que quem pensa que já chegou ao "ponto alto" do graffiti deve respirar fundo e deixar o ego descer.

8 - Algo que queiras dizer a quem começou há pouco tempo?

Há miúdos novos que começam a pintar e revejo-me neles. Ainda no Meeting tive a falar meia-hora com um miúdo porque senti mesmo que valia a pena, via-se o respeito que ele tinha por quase toda a gente que estava ali a pintar, via-se o interesse dele, a humildade e a força de vontade. Mas infelizmente são poucos, infelizmente o que vejo mais são miúdos sem qualquer noção do que está para trás, a dizerem merda em fotologs, sem saberem quem tu és, o que já fizeste, sem saberem como se comportarem e em que lugar estão.

Por isso é que é necessário dividir as coisas: aos do primeiro grupo, que tenham toda a força necessária para seguir em frente, que acreditem neles e que não se deixem ir a baixo por coisas negativas que possam ouvir porque mais tarde vão provar a essas pessoas que elas estavam erradas e com sorte vão ter o dobro do skill que elas tem; aos do segundo grupo, sinceramente, não há muito para dizer porque são esses que daqui a dois ou três anos já cá não estão.




*Fonte: Marca Nacional

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