» A ARTE MARGINAL CONQUISTOU O ESU ESPAÇO NO ALGARVE
Os graffiti estão cada vez mais presentes nas cidades algarvias. Arte que era considerada crime é cada vez mais apreciada por todos e há quem pague para tê-la dentro de portas.
A definição de obra de arte raramente é consensual e nos graffiti o consenso ainda é mais difícil de ser atingido. Quem gosta admira, quem não gosta… chama a polícia.
Os graffiti desde a sua origem sempre estiveram associados à ilegalidade, mas o reconhecimento do trabalho e talento dos artistas está a transformar a forma como os writers são vistos no Algarve.
A cidade de Olhão é um exemplo neste aspecto. São poucas as paredes abandonadas que não estão coloridas, muitas delas pela mão de Dário Silva, de 22 anos, conhecido no mundo dos graffiti como Sen.
Dário começou a pintar há dez anos e, em conversa com o barlavento, recordou como tudo começou. «Eu desenhava em cadernos, mas não tinha muita percepção do que eram os graffiti. Quando passava de carro em Faro, com os meus pais, via coisas pintadas de graffiters que agora são meus amigos. Depois comecei a comprar latas de drogaria, a treinar com um amigo e a conhecer outras pessoas que pintavam na altura. A partir daí nunca mais parei».
Pelo meio, até ao estatuto que conquistou actualmente, que lhe permite pintar paredes em plena luz do dia, teve os naturais problemas com a lei. «Em Olhão, pintar graffiti já é praticamente legal, mas já pintei tanto, já fui tanta vez para a esquadra, que agora chegámos a um ponto que deixam pintar, já ninguém diz nada, nem telefona à polícia quando nos vê».
A mudança da atitude das pessoas da cidade e da polícia coincidiu com a mudança de atitude de Sen em relação aos graffiti. «Eu também mudei: admito que fazia vandalismo, fazia pinturas em todo o lado, mas agora respeito, já não pinto vidros de janelas, ou prédios em mármore. Só pinto paredes abandonadas, ou paredes que, se forem depois pintadas de branco, fica tudo resolvido».
Se a pintura de graffiti em paredes tem uma razoável aceitação, o mesmo não se passa com os comboios que são dos alvos preferidos de quem faz pintura de rua. Sen explicou ao barlavento porquê: «os graffiti nasceram nos comboios em Nova Iorque. É diferente pintar uma parede ou um comboio, há uma adrenalina diferente, o coração está sempre a bater por saber que a polícia pode chegar a qualquer momento. Além disso, só quem pinta comboios são os graffiters mais respeitados".
«Nas paredes legais, o objectivo é fazer uma imagem bonita para que as pessoas gostem. Já nos comboios, o objectivo é marcar o nosso nome para toda a gente ver. Apesar de as pessoas se chatearem por não conseguirem ver a paisagem quando pintamos uma carruagem até cima, isso não nos interessa muito, somos um bocado contra a sociedade neste aspecto, porque nós pintamos para quem pinta. Na comunidade de graffiters, o que interessa é quem consegue pintar mais comboios, pois há muita rivalidade e competição», acrescenta Sen.
Apesar de ser olhanense e viver na cidade, a «marca» de Sen já está espalhada por todo o país e até em Espanha. «Já pintei em quase todas as cidades de Portugal, e foi graças aos grafitti que conheci várias localidades. Já fui ao Porto ou às Caldas da Rainha só para pintar um comboio, porque há modelos que não existem no Algarve. No estrangeiro também já pintei, mas só em Sevilha».
A aceitação que a generalidade dos graffiti tem na população já foi vivida na primeira pessoa e com benefícios para Sen, que nos últimos quatro anos realizou vários trabalhos «encomendados». «Já pintei um Parque de Aventura, imensos quartos de miúdos e muitos cafés. No caso do parque, estava a pintar uma parede, quando passou o proprietário e me pediu o orçamento».
Os trabalhos «encomendados» de Sen começaram há relativamente pouco tempo, mas no Barlavento algarvio, Hélder José, de 35 anos, mais conhecido por Bamby, já tem mais experiência e criou a Style Spectrum, uma empresa que se dedica à pintura de graffiti. «Fazemos pintura para eventos, ao vivo. Por exemplo no Rock One estivemos a personalizar t-shirts. Fazemos também trabalhos para a Câmara Municipal de Portimão. O muro junto ao Sasha Beach, na Praia da rocha, foi decorado por nós, tal como a futura Casa da Juventude, para além dezenas de quartos que nos pedem para decorar».
Tal como Sen, Bamby começou a pintar de forma ilegal, decorria o ano de 1989. Pelo meio tirou um curso de design na Alemanha, algo que lhe permite comparar o fenómeno dos graffiti em Portugal e no estrangeiro. «Em Portugal, há mais pessoas a gostar do que fazemos do que a detestar. Na Alemanha, há muitas pessoas que odeiam e outras que adoram, são mais de extremos».
A evolução da forma como os graffiti são vistos pela sociedade também foi notada por Bamby, ao longo dos últimos 20 anos. «Há 30 ou 40 anos, se alguém escrevia alguma coisa numa parede ia preso, hoje esses desenhos são considerados arte. Está a quebrar-se a barreira entre graffiti e vandalismo, uma vez que este é muito associado à marginalidade e ilegalidade, mas isso já está a mudar».
A mudança é tão notória que Bamby considera que «os graffiti são a nova arte dominante que está a correr e a ultrapassar todas as outras, pois é representativa da juventude e todos querem fazer parte dela».
A definição de obra de arte raramente é consensual e nos graffiti o consenso ainda é mais difícil de ser atingido. Quem gosta admira, quem não gosta… chama a polícia.
Os graffiti desde a sua origem sempre estiveram associados à ilegalidade, mas o reconhecimento do trabalho e talento dos artistas está a transformar a forma como os writers são vistos no Algarve.
A cidade de Olhão é um exemplo neste aspecto. São poucas as paredes abandonadas que não estão coloridas, muitas delas pela mão de Dário Silva, de 22 anos, conhecido no mundo dos graffiti como Sen.
Dário começou a pintar há dez anos e, em conversa com o barlavento, recordou como tudo começou. «Eu desenhava em cadernos, mas não tinha muita percepção do que eram os graffiti. Quando passava de carro em Faro, com os meus pais, via coisas pintadas de graffiters que agora são meus amigos. Depois comecei a comprar latas de drogaria, a treinar com um amigo e a conhecer outras pessoas que pintavam na altura. A partir daí nunca mais parei».
Pelo meio, até ao estatuto que conquistou actualmente, que lhe permite pintar paredes em plena luz do dia, teve os naturais problemas com a lei. «Em Olhão, pintar graffiti já é praticamente legal, mas já pintei tanto, já fui tanta vez para a esquadra, que agora chegámos a um ponto que deixam pintar, já ninguém diz nada, nem telefona à polícia quando nos vê».
A mudança da atitude das pessoas da cidade e da polícia coincidiu com a mudança de atitude de Sen em relação aos graffiti. «Eu também mudei: admito que fazia vandalismo, fazia pinturas em todo o lado, mas agora respeito, já não pinto vidros de janelas, ou prédios em mármore. Só pinto paredes abandonadas, ou paredes que, se forem depois pintadas de branco, fica tudo resolvido».
Se a pintura de graffiti em paredes tem uma razoável aceitação, o mesmo não se passa com os comboios que são dos alvos preferidos de quem faz pintura de rua. Sen explicou ao barlavento porquê: «os graffiti nasceram nos comboios em Nova Iorque. É diferente pintar uma parede ou um comboio, há uma adrenalina diferente, o coração está sempre a bater por saber que a polícia pode chegar a qualquer momento. Além disso, só quem pinta comboios são os graffiters mais respeitados".
«Nas paredes legais, o objectivo é fazer uma imagem bonita para que as pessoas gostem. Já nos comboios, o objectivo é marcar o nosso nome para toda a gente ver. Apesar de as pessoas se chatearem por não conseguirem ver a paisagem quando pintamos uma carruagem até cima, isso não nos interessa muito, somos um bocado contra a sociedade neste aspecto, porque nós pintamos para quem pinta. Na comunidade de graffiters, o que interessa é quem consegue pintar mais comboios, pois há muita rivalidade e competição», acrescenta Sen.
Apesar de ser olhanense e viver na cidade, a «marca» de Sen já está espalhada por todo o país e até em Espanha. «Já pintei em quase todas as cidades de Portugal, e foi graças aos grafitti que conheci várias localidades. Já fui ao Porto ou às Caldas da Rainha só para pintar um comboio, porque há modelos que não existem no Algarve. No estrangeiro também já pintei, mas só em Sevilha».
A aceitação que a generalidade dos graffiti tem na população já foi vivida na primeira pessoa e com benefícios para Sen, que nos últimos quatro anos realizou vários trabalhos «encomendados». «Já pintei um Parque de Aventura, imensos quartos de miúdos e muitos cafés. No caso do parque, estava a pintar uma parede, quando passou o proprietário e me pediu o orçamento».
Os trabalhos «encomendados» de Sen começaram há relativamente pouco tempo, mas no Barlavento algarvio, Hélder José, de 35 anos, mais conhecido por Bamby, já tem mais experiência e criou a Style Spectrum, uma empresa que se dedica à pintura de graffiti. «Fazemos pintura para eventos, ao vivo. Por exemplo no Rock One estivemos a personalizar t-shirts. Fazemos também trabalhos para a Câmara Municipal de Portimão. O muro junto ao Sasha Beach, na Praia da rocha, foi decorado por nós, tal como a futura Casa da Juventude, para além dezenas de quartos que nos pedem para decorar».
Tal como Sen, Bamby começou a pintar de forma ilegal, decorria o ano de 1989. Pelo meio tirou um curso de design na Alemanha, algo que lhe permite comparar o fenómeno dos graffiti em Portugal e no estrangeiro. «Em Portugal, há mais pessoas a gostar do que fazemos do que a detestar. Na Alemanha, há muitas pessoas que odeiam e outras que adoram, são mais de extremos».
A evolução da forma como os graffiti são vistos pela sociedade também foi notada por Bamby, ao longo dos últimos 20 anos. «Há 30 ou 40 anos, se alguém escrevia alguma coisa numa parede ia preso, hoje esses desenhos são considerados arte. Está a quebrar-se a barreira entre graffiti e vandalismo, uma vez que este é muito associado à marginalidade e ilegalidade, mas isso já está a mudar».
A mudança é tão notória que Bamby considera que «os graffiti são a nova arte dominante que está a correr e a ultrapassar todas as outras, pois é representativa da juventude e todos querem fazer parte dela».
*Fonte: "O Barlavento"
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