// Vasco Rodrigues
Como já tínhamos prometido, entrevistamos Vasco Rodrigues, o principal mentor do regresso do Meeting of Styles a Portugal após 6 anos. Conhecido no meio pela realização de alguns eventos e de ter estado na linha da frente dos registos que se fizeram ao longo de muitos anos do graffiti português, Vasco regressa finalmente a Portugal para, mais uma vez...fazer algo de positivo pelo graff nacional.
// Vasco, estás de volta ao panorama do graffiti nacional. Muita gente nova no activo, uma geração de writers que não conhecem o teu nome e que não sabem aquilo que fizeste pela cultura. Reaviva-nos a memória, diz-nos quem tu és e o que já fizeste pelo graffiti português.
Em primeiro lugar, muito obrigado pelo convite. Sou um jornalista nascido em 1971 e que pelo amor ao graffiti e o desejo de fazer com que ele fosse reconhecido lá fora, organizei grandes eventos, sempre com nomes estrangeiros a pintar ao lado dos portugueses.
// Apesar de nunca teres pintado segues muito de perto e foste parte activa no desenvolvimento da cena do graffiti português. Como começou esse interesse e exactamente há quantos anos atrás?
O meu envolvimento no graffiti português começou em 1994, quando comecei a tirar fotos do que ia vendo pela zona de Carcavelos e Belém. Um pouco depois tive a sorte de apanhar a PRM a pintar no saudoso Hall of Fame de Belém, falei com eles e a partir daí comecei a organizar várias coisas, desde eventos a workshops, trabalhos, etc. Acabava eu por dar a cara por quem pintava à margem da lei.
// Entretanto foste para Londres e obrigatoriamente "abandonaste o barco", ficando mais distante e menos activo por cá. Mas no Reino Unido, durante este período de tempo, mantiveste o teu interesse no graffiti? De que forma?
Fui realizar um sonho antigo, que era morar em Londres. Mas já antes de ir me tinha desligado da organização de eventos de graffiti em Portugal, muito por culpa de quem pinta e das invejas e intrigas que apareceram entretanto. Hoje, com quase 5 anos de afastamento, chego à conclusão que as coisas aconteceram porque tinham que acontecer. Muitos writers queriam seguir o caminho profissional e se calhar a minha presença seria incómoda. Não abandonei barco nenhum, senti que fui atirado “borda fora”. No Reino Unido tentei sempre manter-me a par do que acontecia, indo a inúmeras exposições, onde conheci muitos dos meus ídolos old school.
// Voltas bastantes anos depois para abraçar um projecto que não passava por Portugal desde 2003, o melhor evento do mundo de graffiti. Onde se realizará o Meeting of Styles Portugal 2009?
Ao manter-me informado sobre o que se passava em Londres acabei por voltar a falar com os organizadores alemães do Meeting of Styles, que como te lembras organizei pela primeira (e única até agora) em Portugal, nas Caldas da Rainha. Ao vir a Portugal de férias fui confrontado com uma proposta de ser eu a organizar o Seixal Graffiti 2009, sob pena de deixar de se realizar. Depois de falar com quem o estava a organizar até então, e de ter a garantia que essa pessoa não estaria interessada em continuar, aceitei e imediatamente anunciei à autarqui do Seixal que este ano colocaria o evento no panorama mundial de graffiti, garantindo novamente a presença de Portugal no Meeting of Styles.
// E quais os apoios que tens neste momento?
O Meeting of Styles, por ser um evento internacional, tem sempre os mesmos patrocinadores para todas as etapas: a Montana alemã e a Carhart.
Em Portugal temos, para alem obviamente da Câmara Municipal do Seixal como Alto-Patrocinador, a Ecko, a New Era e a Station Hip-Hop Shop. Estamos ainda à espera de dois ou três outros.
// Sabemos que vais restringir o número de presenças de writers nacionais o que, embora muitos não aceitem nem compreendam, é absolutamente essencial para o sucesso de um evento. Quantos writers nacionais vão estar presentes e...quem são?
Sim, é verdade. Uma das maiores queixas da Câmara em relação a eventos passados foi a confusão que se passava na parede. O convite desmedido a tudo e todos acabava por reduzir a quantidade e qualidade do Concurso de Graffiti, que é a génese do Seixal Graffiti. Um Concurso que não presta é meio caminho andado para a morte do evento.
A minha experiência diz-me que menos writers garante mais qualidade e maior fluidez. Acaba por dar também mais espaço disponível para que cada convidado possa meter toda a sua criatividade em palco.
Quanto aos writers que estarão presentes, serão 20 portugueses e 4 estrangeiros. Infelizmente chegou aos nossos ouvidos que existe já um certo boato que certas instituições estariam muito interessadas em saber já os nomes e tags de quem vai pintar no evento, pelo que me reservo no direito de não os divulgar. Mas são aqueles que mais nível terão neste momento em Portugal (eu sei que isso é subjectivo), pelo que a qualidade está garantida.
// Um evento como o MOS é sempre alimentado com presenças internacionais, algo que está praticamente garantido nesta edição. Queres avançar alguns nomes?
A presença internacional está 100% garantida. Posso avançar já com a confirmação da presença dos writters old school londrinos ROUGH e SYSTEM. Os outros dois já estão garantidos mas só quero confirmar quando tiver os bilhetes de avião deles na mão, pelo que teremos de aguardar uma semanita no máximo.
// Enquanto organizador, o que esperas realmente do Meeting of Styles? Quais as tuas expectativas?
Espero que o Meeting of Styles seja um acordar internacional para a qualidade do graffiti português, que parece ter estado adormecido.
Espero que as pessoas abracem a oportunidade de pintar com pessoas que dificilmente vão voltar a poder pintar, e que não se preocupem apenas em deitar para a parede um logo, mas que falem, discutam, e no final englobem os estilos de todos e façam uma parede para ninguém por defeito.
// Estando dentro do universo mundial do graffiti há muitos anos, acreditas que Portugal tem potencial hoje em dia para estar ao nível da Espanha, da Alemanha, da França, do Reino Unido...?
Sem dúvida alguma! A única coisa que falta é a divulgação! Continua a não existir uma revista a sério de graffiti em Portugal, uma Graphotism tuga. As marcas de street-wear fazem publicidade em revistas de moda, porque não canalizar esses apoios para algo que faz falta para nós?
Basta olhar para o sucesso que o Vhils está a fazer em Londres, desde que decidiu ir para lá viver, para se entender o que falta ao graffiti nacional. Falta pegar nas latas e passear, fazer contactos, networking, aparecer em eventos lá fora.
// Quem são para ti os writers nacionais que realmente estão a dar cartas e a honrar o graffiti português não só cá como lá fora?
Sem dúvida o Vhils ultrapassou tudo o que se esperava dele e transformou-se num artista com A grande. Do que tenho visto (e que é pouco, confesso), vejo um nível muito bom nos que pintam à muitos anos. Não tenho conhecimento de causa diário para dizer quem está a pintar melhor.
// Para terminar, convido-te a deixares uma mensagem. Não é habitual este tipo de abordagem mas a tua experiência, conhecimento e valores assim o justificam. Até porque começa a fazer falta um testemunho de quem realmente sabe perante aqueles que julgam saber tudo...
Espero que quem começa agora a pintar que se lembre que o graffiti é sinónimo de amizade, camaradagem, de fazer contactos e pintar com amigos. Espero que quem já pinta à muitos anos nunca se esqueça que já foram aquele puto que comprou a sua primeira lata e que quer aprender com os seus ídolos. E espero que todos nós aproveitemos ao máximo estes eventos que acabam por ser cada vez mais raros e que tenhamos gozo naquilo que fazemos.
5.8.09
Cartel Entrevista
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2 comentários:
Mas são aqueles que mais nível terão neste momento em Portugal (eu sei que isso é subjectivo), pelo que a qualidade está garantida.
que palhaçada
nao é preciso ser vidente para saber quem vao ser os writers...
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