19.8.08

Museu Efémero do Graffiti



As paredes do Bairro Alto, em Lisboa, escondem um museu efémero. O "Movimento Acorda Lisboa" fez um levantamento das "obras de arte" e destaca na poluição visual os graffitis "que são verdadeiramente artísticos".

"Recolhemos ao todo cerca de 82 peças, e ficaram reunidas no portfólio do museu 33 obras de 33 artistas, nacionais e estrangeiros", contou à Lusa Daniel Oliveira, do "Movimento Acorda Lisboa" (MAL), para quem não se coloca a questão de graffiti ser ou não arte.

"Graffiti é arte, ponto final. É um meio que acaba por estar profundamente vivo, com diferentes estilos, expressões e artistas, pertencentes a diferentes gerações. Há vários meios de aplicação e diferentes mensagens. No Bairro Alto, vemos isso tudo junto. Temos peças de artistas que têm 20 anos e de outros de 50 e mais anos", defendeu.

No site do museu, www.museuefemero.com, está disponível para "download" um mapa, onde estão sinalizadas todas as obras, bem como um "podcast", com explicações sobre as mesmas. Numa das peças expostas, da Dalaiama, equipa de duas graffiters portuguesas, vemos gaivotas e circunferências estaladas.

Daniel Oliveira explica que esta é uma obra "profundamente política". "As gaivotas da liberdade e os ovos dos quais estala o capitalismo já foram pintados à frente de centros comerciais. É uma expressão política de Esquerda", esclareceu.

O MAL começou por demarcar a zona do Bairro Alto, "que funciona como uma montra pela visibilidade que lhe está associada", mas é possível que o projecto seja ampliado a outras zonas da cidade. Incentivar o vandalismo não é o objectivo do Museu Efémero.

"Não é este projecto que vai incentivar o que quer que seja, a vontade está lá. O projecto serve mais para destacar a qualidade de certos trabalhos, para que não sejam tapados por "tags" ou cartazes", afirmou.

Mas nem sempre é possível que isso aconteça. Uma das obras do museu, "Girl with a teddy" ("menina com ursinho"), do norueguês Dolk, um graffiti pintado em papel e posteriormente colado na parede, desapareceu há uns dias. "Foi até agora a única baixa".

Entre as peças mais antigas do museu está "Amália", um stencil sobre papel do francês Jef Aerosol, colocado numa parede da Travessa da Queimada, há cerca de dois anos. A obra, onde se vê Amália Rodrigues a tocar guitarra portuguesa, está à venda numa galeria de Lyon, em França, e foi espalhada pelo artista em vários locais da capital.

O facto de "Amália" ter sobrevivido tanto tempo nas paredes do Bairro é, para Daniel Oliveira, "uma prova de que já se distingue a verdadeira arte".

*Fonte: Jornal de Notícias - 12.08.2008

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